Com oito homicídios em 10 dias, Barra Mansa vive dias de medo; delegado garante que disputa pelo tráfico de drogas é responsável por 90% das mortes na cidade
Barra Mansa
“Os homicídios ocorridos em Barra Mansa têm ligação com a venda de drogas. Quase todas as vítimas tinham passagem na polícia por tráfico”. Com esta afirmação, o novo delegado titular da 90ª DP de Barra Mansa (RJ), Michel Floroschk, recebeu a reportagem do jornal Folha do Interior para uma entrevista exclusiva sobre violência, tráfico de drogas, inquéritos policiais, prisões e a como andam as investigações em Barra Mansa nos últimos dias. Michel, que veio da 89ª DP Resende, garante que a violência e os homicídios no Estado do Rio só acontecem porque existe uma disputa desenfreada entre duas facções: o Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP). “Em São Paulo, o tráfico de drogas é negócio, os caras não matam por qualquer motivo. No Rio, qualquer disputa entre as duas facções resulta numa morte ou num assassinato violento a luz do dia, na frente da família ou na rua”, afirma.
Em Barra Mansa, a situação é reflexo, em menor escala, do ocorre na capital fluminense. Duas facções disputam o controle do tráfico na cidade. O Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro. Michel revelou que o Comando Vermelho usa da violência e dos assassinatos frios para assumir o controle de bairros ou comunidades. “Tanto que nas estatísticas, a maior parte dos homicídios ocorre na região onde o comando vermelho atua”. Os números confirmam as falas de Michel. 70% dos crimes são praticados por integrantes do CV. O delegado ainda garante que não existe mais bairros perigosos ou onde os bandidos estão fortemente armados. “As facções disputam o espaço, o controle, a venda na localidade. E quando um quer invadir o espaço do outro, ocorrem as mortes”, contou, garantindo que já tem o mapeamento dos bairros e onde atua cada facção.
Floroschk comparou a disputa das facções do Rio com a criminalidade no Estado de São Paulo. “Em São Paulo não tem disputa, só existe o PCC e eles são contra o uso de violência o tempo todo. Lá o tráfico é negócio e no negócio não tem violência ou morte”, detalhou.
Oito homicídios em 10 dias deixam Barra Mansa assustada
O assassinato cruel do motoboy, Igor Levi de Araújo, de 32
anos, na noite desta segunda-feira, dia 11, elevou para 8, o número de
homicídios em Barra Mansa, nos últimos 10 dias. Igor levou 8 tiros na cabeça, o
que segundo a polícia, é característica de execução e provavelmente, suspeita
de ligação com o tráfico de drogas. Ele foi baleado na Rua da Mina, no bairro
Bocaininha, em Barra Mansa, por volta de 22 horas. Sua esposa esteve na
delegacia para prestar informações. No local, perícia encontrou cápsulas de
pistola .40 de uso exclusivo das Forças de Segurança.
Na semana passada, três homicídios já tinham preocupado a polícia. Com as cinco
mortes deste feriado prolongado, a situação ficou ainda mais tensa.
“O cara entra pro tráfico e sabe que em 5 cinco anos não vai sair com diploma
de medicina. A única coisa que ele sabe é que vai morrer”, explanou o delegado
de Barra Mansa.
Quando esteve à frente da 89ª DP, em Resende, Michel ganhou uma premiação da Secretaria de Estado de Segurança Pública pelos baixos índices de homicídios na cidade. “A Polícia precisa adotar novas formas de combater o tráfico.
Para o delegado, uma investigação detalhada e um inquérito policial bem instruído pode ser o maior auxiliar do Ministério Público quando o promotor oferecer a denúncia de um crime à Justiça. “No setor de homicídios, fazemos a investigação para prender, manter preso e condenar. Quando o Ministério Público oferece a denúncia, ele usa o inquérito policial como base. Se ele (inquérito) for mal feito, pode contaminar a ação penal, deixando margem para que o criminoso seja solto. Por isso a investigação deve ser bem trabalhada na delegacia”, explicou.
Floroschk também já teve seu trabalho reconhecido. Ainda atuando em Resende, em 2019, ele e sua equipe foram líderes de produtividade entre as delegacias de médio porte, que são maioria na região Sul Fluminense. Além de Resende, Floroschk já foi delegado titular em Piraí (94ª DP) e adjunto em Volta Redonda (93ª DP.
Estado do Rio – Os homicídios dolosos no estado do Rio de Janeiro caíram 7% entre janeiro e agosto deste ano na comparação com o mesmo período de 2020. No total, foram 2.240 mortes, chegando ao menor valor para os meses desde 1991, quando se iniciou a série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP). Em agosto, foram registrados 258 homicídios, o que representa uma redução de 1% se comparado com agosto do ano passado. Este também foi o menor valor para o mês desde 1991.