Área de 74 mil m², no Sertão dos Hortelãs, em Rio Claro, abriga as três principais nascentes do Rio Barra Mansa
Barra Mansa/Rio Claro
Em 2007, quando o então rotariano Mozart Judice Arantes liderou um movimento na cidade para aquisição de 74 mil metros² no Sertão dos Hortelãs, em Rio Claro, ninguém tinha a certeza de que, 14 anos depois, a área estaria totalmente recuperada e voltando a produzir água. Isso mesmo. A área comprada pela Casa do Rotariano de Barra Mansa por R$ 22 mil, se regenerou. E na Serra do Mar, entre a Serra da Carioca e o Sertão da Prata, as três principais nascentes estão abastecendo o Rio Barra Mansa, o rio que deu nome à cidade de quase 190 mil habitantes, no Sul do Estado do Rio de Janeiro.
Mas para manter este santuário preservado e produzindo água, a empresa Transporte Generoso, fez um investimento na manutenção da área. “A Generoso, que já havia nos ajudado em 2007, agora financiou um novo cercamento para evitar a invasão do gado e investiu na sinalização das nascentes em toda a estrada. Essa nova etapa vai garantir a manutenção do manancial pelos próximos 10 anos. Isso assegura o retorno dos animais silvestres, dos pássaros e no crescimento da floresta. Agora, o Rio Barra Mansa nunca mais morrerá”, afirma orgulhoso Mozart Judice Arantes, responsável pela iniciativa em 2007 e, agora, em 2021.
Segundo Mozart, quando as terras foram adquiridas, só havia pasto e as nascentes estavam praticamente mortas, sem produção nenhuma de água. “Hoje é um orgulho muito grande saber que as águas voltaram e que a floresta está viva. As folhas das árvores quando caem fazem como esponja. Esse processo que garante a recuperação da área”, ressaltou, lembrando do apoio que teve do médico Carlos Roberto Fonseca, que era presidente da ONG Colibri, e que o ajudou no projeto.
De acordo com diretores da Transporte Generoso, a empresa sempre apoiou projetos na área ambiental e social, mas que investir na preservação das nascentes do Rio Barra Mansa gera um sentimento maior. “Hoje, o futuro do planeta depende diretamente da manutenção e preservação das florestas. Mas a Generoso sempre desenvolveu ações de preservação ambiental como controle no uso de papel, reuso de água, reciclagem, selo verde e renovação da frota como motores ambientalmente corretos. Controlamos as emissões, mas também investimos em manutenção e preservação de áreas verdes”, comentou. A empresa tem uma forte atuação na área social na região Sul Fluminense.
O retorno dos pássaros é apontado pelo secretário de Meio Ambiente de Rio Claro (RJ), Lázaro José Barbosa Lopes, como o principal fator que garante a regeneração da área verde. Por um simples motivo, segundo ele. “As árvores estão crescendo porque o local está protegido. A floresta voltou a produzir água, que ajuda neste ciclo. Com isso, a floração de várias espécies está provocando o retornando dos pássaros para fazem seus ninhos e buscarem alimento. É um ciclo fantástico da natureza se regenerando”, explica.
Para o secretário de Meio Ambiente de Barra Mansa, Vinícius Azevedo, garantir a produção de água nas nascentes é única forma de assegurar a sobrevivência da microbacia hidrográfica do Rio Barra Mansa. Vinicius explicou que o Rio Barra Mansa nasce em Rio Claro, há 1.150 metros de altitude, desce por Pouso Seco chegando ao leito da RJ-155 (Rodovia Saturnino Braga) até o bairro Santa Clara, na área urbana de Barra Mansa. “Neste momento, o Rio aumenta seu volume até desembocar no Rio Paraíba do Sul. A proteção das nascentes é um projeto de grande impacto na microbacia”, detalhou Vinicius Azevedo.
Um recente estudo sobre o Projeto Produtores de Água e Floresta apontou que a única forma de garantir a sustentação dos mananciais na região é a proteção dos fragmentos, o reflorestamento e a recuperação de áreas degradadas.
“É a floresta, com seus serviços ecossistêmicos associados, que garantirá a permanência da água por um período mais prolongado, equilibrando assim o ciclo hidrológico. Ela funciona basicamente como um filtro e como uma caixa d’água”, diz Diná Andrade Lima Ramos, em estudo sobre o Projeto Produtores de Água e Floresta de Rio Claro (RJ).
A elevada altitude, a proximidade com o Mar (Angra dos Reis) e com o Vale do Rio Paraíba do Sul, faz com que o Sertão dos Hortelãs sofra mudanças repentinas no seu clima. Num mesmo dia de sol podem ocorrer baixas temperaturas com serrações deixando o tempo nebuloso e frio. “Isso faz dessa região um lugar único no eixo Rio São Paulo. As características dessa região montanhosa revelam uma fauna e uma flora peculiares”, explica Mozart Arantes.
Ele disse que a proteção da floresta possibilitou o retorno de arvores como a canela, imbaúba, ipê amarelo, quaresmeira e arvores frutíferas. “Fizemos um reflorestamento em 2007 e agora fizemos um novo plantio de árvores frutíferas. Com isso, espécies de aves que estavam desaparecidas da região retornaram ao seu habitat como o carcará, araponga, anu preto, savacu, azulão”, contou orgulhoso.
Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar
O Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, definido pela Conservação Internacional-Brasil, é compreendido pela bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo, parte da Serra da Mantiqueira em Minas Gerias e o Estado do Rio de Janeiro, tendo como limite norte o Rio Paraíba do Sul.
De acordo com a entidade, “a porção da Serra do Mar entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais possui um dos principais trechos contínuos de Mata Atlântica e uma das maiores concentrações de espécies endêmicas de muitos grupos da fauna e flora, ou seja, com espécies que só existem lá e em nenhum outro lugar do planeta. Os riachos costeiros do Rio de Janeiro apresentam o mais elevado nível de endemismo de peixes da Mata Atlântica e a Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, destaca-se como a maior diversidade de mamíferos de pequeno porte desse hotspot. Nessa região, muitos remanescentes de mata compõem unidades de conservação, o que os tornam propícios para ações e investimentos em conservação a longo prazo – particularmente para a implementação de corredores destinados a aumentar a conectividade entre fragmentos.
Já em relação a sua cobertura vegetal, a floresta que caracteriza a Serra do Mar é denominada Floresta Ombrófila Densa ou Floresta de Encostas, que apresenta: diversidade de flora; Serra do Mar: Patrimônio Ambiental, Histórico e Cultural Características da Serra do Mar, grande variedade de espécies; árvores que chegam a 30 metros de altura; corpo florestal denso e de copas contíguas; ambiente interno com sombra densa, quente e úmido; denso manto florestal; interior florestal com grande variedade de Pteridophyta, orquídeas e lianas; e enraizamento superficial e subsuperficial intenso e denso.
Em relação aos animais da região que merecem destaque temos: o macuco, a jacutinga, o papagaio-dacara-roxa, o papagaio-chauá, o sabiacica, o pararu, o pixoxó, a cigarra-verdadeira, o gavião-pombo-grande, o gavião-pomba. Quatro entre as cinco espécies de primatas (macacos) registradas são endêmicas da Mata Atlântica e consideradas ameaçadas de extinção: o sagui-da-serra-escuro, o sauá, o bugio e o muriqui ou mono-carvoeiro. Os grandes mamíferos são a onça-pintada, a onça parda, a anta, o cateto e a queixada. A paca, a cotia, o tatu-galinha e o tamanduá-mirim são considerados espécies vulneráveis, principalmente pela pressão da caça.