Único de vereador de oposição ao governo, ele passou por situação complicada depois de realizar denúncias contra autores de livro
Barra Mansa
O vereador de Barra Mansa, Marcell Castro, está passando por uma situação constrangedora depois de fazer um verdadeiro ‘circo’ para supostamente denunciar a contratação de um trabalho editorial pela Secretaria de Educação de Barra Mansa. Na sessão de terça-feira (29), ele usou sua fala no plenário para acusar os autores e a prefeitura de Barra Mansa de superfaturar o preço de um trabalho intelectual e editorial que diversos profissionais desenvolveram para contar a história de Barra Mansa para alunos da rede municipal de ensino.
A prefeitura de Paraty e a prefeitura de Volta Redonda também contrataram o mesmo serviço.
Tanto que, os autores do livro ‘Barra Mansa – Cidade de Gente’ compareceram na manhã desta quarta (30) à sessão ordinária da Câmara Municipal de Barra Mansa para rebater acusações feitas pelo vereado, que eles garantem serem falsas.
No início dos trabalhos, o vereador Gustavo Gomes abriu mão do seu espaço de fala para que uma das autoras e gerente administrativa e financeira da Secretaria de Educação, Morgana Vieira, expressasse sua indignação e apresentasse informações oficiais sobre os livros.
“Esses exemplares são frutos do trabalho de professores e pedagogos que estão há muito tempo na rede. O prefeito sequer poderia pegar nossa obra intelectual e mandar para uma gráfica, não se trata disso. Esses livros são obras registradas no Instituto Sulbrasileiro de Ensino (ISBE), que é um RG do livro, e os profissionais envolvidos também estão cadastrados como autores. Nós vendemos o nosso trabalho para uma editora, que é de Fortaleza e possui um projeto que tem o intuito de resgatar raízes históricas e geográficas através de um retrato personalizado em formato de livro”, disse Morgana, que também é presidente do Conselho Municipal de Educação.
Morgana ainda esclareceu pontos do processo administrativo para a aquisição dos livros e distribuição gratuita para os alunos dos anos iniciais e finais da rede pública. “Essa é uma obra personalíssima, que só interessa à população de Barra Mansa; portanto, há inexigibilidade de licitação. No processo há um cronograma a ser cumprido, com lançamento, concursos de redação e outros pontos que devem ser realizados até o fim do contrato. Dentro desse cronograma, contava por exemplo, a presença de nós, autores, em todas as unidades para uma cerimônia de entrega e autógrafos em todos os exemplares recebidos pelos estudantes. Os livros já foram distribuídos aos alunos de todas as escolas municipais e no almoxarifado há mais exemplares que serão entregues no próximo ano letivo”, revelou Morgana.
Ainda durante a sessão, os vereadores fizeram uma série de perguntas sobre o processo de aquisição, mas o Marcell Castro se calou. Morgana respondeu a todos os parlamentares e lembrou ainda que, os documentos estão disponíveis para consulta no Portal da Transparência da prefeitura e se colocou à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas. As prefeituras de Volta Redonda e Paraty também farão o mesmo projeto com a editora.
O vereador Marcell Castro, após ouvir as falas dos autores do livro, afirmou não ser contra eles ou contra a ideia de produzir um livro que conta a história da cidade. No entanto, ele mantém as suspeitas em relação ao custo de confecção da obra.
— Isso precisa ser investigado — disse. Ele também eximiu de culpa os autores da obra: “Eles não são ordenadores de despesa”, disse.
O presidente da Câmara, Paulo Sandro, pediu perdão, em nome de todos os vereadores, pelas falas de Marcell Castro. “Eu achei uma falta de respeito o que foi feito com os profissionais envolvidos no projeto dos livros na sessão anterior. Hoje eu estive em uma das papelarias da cidade e adquiri dois cadernos, um mais simples, ao custo de R$ 7, e outro de capa dura, no valor de R$17,80. Agora dizer que um livro, que teve o trabalho e esforço de uma equipe, custa em torno de R$28? Na presença de todos os autores, quero pedir perdão a cada um por essas falácias políticas, pois eu não aceito esse jogo sujo”, finalizou.
Há uma grande diferença entre simplesmente imprimir um livro, que é o que é feito por uma gráfica, e conduzir todo o projeto da obra, que inclui o trabalho dos autores de textos e imagens, a programação visual, a conclusão do projeto gráfico e, só ao fim do processo, a impressão.
No mercado, livro sairia por cerca de R$ 186
A parte de impressão do livro, que foi o objeto do levantamento de preços feito pelo vereador Marcell Castro, corresponde a algo entre 10% e 20% do preço total da obra, de acordo com um levantamento feito pela Editora Taba. Entre os fatores que influem nesse custo, estão o formato da obra, a qualidade do papel e a quantidade de páginas com ilustrações coloridas, cuja impressão é mais custosa.
O livro ‘Barra Mansa – Cidade de Gente’, tem 200 páginas, sendo uma grande quantidade delas com imagens coloridas, é feito em papel com gramatura (espessura) 75 no miolo e 350 na capa.
A tiragem de 10 mil exemplares é pequena quando se fala de livros didáticos para escolas em geral, mas, como se trata de obra destinada apenas a Barra Mansa, seria desnecessário imprimir mais do que isso. Quanto maior a tiragem, menor o custo unitário.
Levando em conta todas as características do projeto, a impressão corresponderia a cerca de 15% do valor total do livro.
Assim, o preço unitário do projeto total de um livro que custe R$ 28 para imprimir ficaria em cerca de R$ 186. Sem desconto, cada unidade do livro adquirido pela Prefeitura de Barra Mansa custa R$ 176. Com o desconto obtido pela prefeitura, cada exemplar da obra saiu por R$ 132 – R$ 54 abaixo do que se poderia estimar no mercado.