Flávia Camargo percorreu 1.220 km em 87 horas; ela é a única mulher do Sul Fluminense a participar de percursos com mais de 300 km
A ciclista de Barra Mansa Flávia Camargo participou em agosto da Paris Brest Paris (PBP), evento de ciclismo de longa distância onde os participantes precisam percorrer 1.220 km em 90 horas. Ao todo, participaram 7 mil atletas, destes, 135 brasileiros, que largaram em ondas a cada 15 minutos.
A Paris Brest Paris não é uma prova competitiva, que tenha pódio ao final, e não é dividida por categorias. Originalmente, era uma corrida de bicicleta de 1.200 km de Paris a Brest e de volta a Paris. A última vez que foi disputada como uma corrida foi em 1951. A edição mais recente do PBP foi realizada no dia 20 de agosto.
Flávia largou da cidade de Ramboulliet, indo até a cidade de Brest e voltando para a cidade onde o evento iniciou. A ciclista passou por 204 cidades e vilas medievais do interior da França.
Para participar da prova, é necessário uma série de etapas cumpridas anteriormente. No ano anterior à PBP, Flávia se tornou uma “super randonneur” (randonneur é o nome dado ao ciclista de longa distância), que é quando o atleta faz uma super série, que consiste em completar provas de 200, 300, 400 e 600 quilômetros em um tempo determinado.
No ano do PBP, é obrigatório fazer novamente a super série e se tornar super randonneur novamente para efetuar a inscrição. Com a super série, Flávia garantiu a pré-inscrição para a PBP. A ciclista também fez uma prova de 1.000 km em 2022.
Flávia contou como foi a preparação para encarar um desafio tão difícil. “A preparação para esse tipo de prova exige muita disciplina e muita renúncia também. Eu treinava cinco vezes na semana, sendo que nos fins de semana os treinos são de mais de 7 horas de duração. Como trabalho das 8h às 18h, acordo 4h30 pra treinar antes de trabalhar. Então foi muito cansativo, mas valeu a pena demais”.
Para conseguir cumprir a distância em tão pouco tempo, os atletas precisam criar estratégias para descanso e alimentação. “Durante a prova, temos os pontos de controle obrigatórios, onde temos que passar para carimbar o passaporte e provar que passamos por ali. Cada um tem sua estratégia de parada, de sono, de alimentação. A única coisa obrigatória é que o ciclista carimbe o passaporte nos postos”.
A ciclista também contou sobre a importância da PBP para aqueles que praticam o esporte e a experiência única que viveu. “Essa prova é para o ciclista de ultra distância um sonho que acontece somente a cada 4 anos. É uma prova cara, com preparação difícil, mas estar lá compensou absolutamente todos os sacrifícios. É uma prova muito sofrida, mas extremamente compensadora. Estar ali no meio de pessoas do mundo inteiro, muito preparadas, cada uma com uma história, com um passado, com um objetivo, com uma preparação, com uma realidade… é incrível. Passar pelas pequenas vilas medievais e a população estar toda na rua, dando água, comida, torcendo, mesmo que de madrugada e no frio, foi muito emocionante e dava uma força extra”.
A estratégia adotada por Flávia foi dormir pouco, fazendo pequenos cochilos pelo caminho. A ciclista descansou pouco menos de 4 horas no total, terminando a prova em 87 horas. “Tirei pequenos cochilos pelo caminho, nas gramas das praças nas cidades e também no chão do posto de controle. Durante todo o caminho, ver atletas cochilando na beira da estrada é cena comum. Para superar o desgaste físico, o mental tem que estar extremamente forte e eu trabalhei demais nisso. Estava muito preparada, não deixei o cansaço ou a dor de lesões pré-existentes me abater em momento algum”, explicou a ciclista que tem uma lesão no joelho e outra no punho.
A conquista veio após Flávia ter sua bicicleta de treino furtada no Rio de Janeiro. A bicicleta foi recuperada e será rifada em novembro. O valor arrecadado será destinado para duas instituições que têm projetos sociais envolvendo crianças e ciclismo.
A ciclista
Flávia Camargo tem 43 anos e pedala desde 2015. Ela faz parte do grupo BM Biker e divide sua vida entre seu trabalho e a paixão pelo ciclismo. Os percursos de longa distância começaram em 2019, quando ela encarou um evento de 200 km.
Porém a dificuldade era encontrar pessoas que topassem pedalar longas distâncias. “Me apaixonei, mas não achei companhia para fazer a série e na época não tive coragem de fazer sozinha, pois as provas varam madrugada adentro e pedalar sozinha de madrugada nas estradas brasileiras é tenso. Hoje a maioria das provas eu faço sozinha”.
Logo após, veio a pandemia. Assim que liberaram as provas, Flávia voltou a praticar. “Ainda somos poucas mulheres. Na região, eu sou a única mulher com mais de 300 km no currículo. Somos só duas pessoas com 1.000 km no currículo… eu e um parceiro de Piraí. No estado do Rio inteiro, somos apenas 4 mulheres ultra”.
Quem quiser acompanhar o trabalho da Flávia Camargo e saber mais sobre ciclismo de longa distância, pode acompanhar seu Instagram @diariodeciclista. “Uso meu Instagram para trazer mais adeptos ao esporte e incentivar mais mulheres a vir para o mundo da ultra distância”.