Campanha, que ocorre entre 18 e 25 de setembro, destaca impactos da fadiga mental no trânsito e aumento de acidentes envolvendo patinetes, scooters e bicicletas elétricas; especialistas dão orientações de segurança.
Entre os dias 18 e 25 de setembro, acontece em todo o país mais uma Semana Nacional de Trânsito, cujo objetivo é conscientizar e educar pedestres, ciclistas e motoristas para um trânsito mais seguro. O tema deste ano é “Desacelere. Seu bem Maior é a Vida” e os dados sobre a segurança no trânsito nas vias do país demonstram a importância da campanha:
– O Anuário 2024 da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que no ano passado 6.160 pessoas morreram – mais de 16 óbitos diários – e 54.526 ficaram feridas em acidentes ocorridos em rodovias federais. Ao todo, 73.156 acidentes foram contabilizados em 2024 nas rodovias federais, resultando em mais de 200 ocorrências por dia;
-Segundo levantamento das Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), as ocorrências de trânsito continuam a impor uma grande carga ao sistema público de saúde no Brasil: em 2024, foram registradas 227.656 internações hospitalares no SUS por sinistros terrestres, o equivalente a uma vítima recebendo atendimento de emergência a cada dois minutos.
Causas relacionadas à saúde mental de motoristas, como reação tardia ou falta de reação do condutor ou transtornos mentais, são muitas vezes apontadas como responsáveis em sinistros de trânsito. O psicólogo Pedro Dinelli Cruz, explica que a saúde mental afeta diretamente na tomada de decisões e na capacidade de reação de uma pessoa ao volante e afirma que problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade ou algum outro transtorno mental podem levar à diminuição significativa das habilidades necessárias no trânsito.
“Essas questões podem ocasionar falta de concentração, podem aumentar a distração e causar lentidão nas reações. Com a saúde mental fragilizada, um motorista pode não conseguir reagir a uma situação de perigo, aumentando o risco de acidente. Uma boa saúde mental vai contribuir para a concentração, atenção, memória e processamento de informações, habilidades essenciais no trânsito e que fazem um motorista antecipar riscos, interpretar sinais e tomar decisões rápidas dentro do ambiente complexo que é o trânsito”, destaca o professor do curso de Psicologia da Estácio.
O psicólogo cita ainda o chamado estresse no trânsito ou fadiga de trânsito, que é o esgotamento diário, mental e físico, de motoristas, causado por diferentes motivos, como longo tempo gasto em engarrafamentos e deslocamentos, e necessidade de atenção constante ao volante.
“Tudo isso pode levar à fadiga mental e física, uma exaustão que resultará em reflexos mais lentos e menor capacidade de avaliação de riscos, aumentando a tendência a cometer erros simples. Esse esgotamento também pode aumentar a agressividade, o estresse e a frustração, gerando muita irritabilidade e intolerância, um cenário preocupante já que o trânsito é um lugar onde a sociabilidade acontece constantemente, pois mesmo que um motorista não fale com o outro, os veículos estão em constante comunicação. É esse esgotamento que faz com que acontecimentos pequenos e corriqueiros, como uma fechada ou uma ultrapassagem indevida, sejam interpretados muitas vezes como provocações, levando a reações exageradas e brigas no trânsito. Com o esgotamento, a paciência, a cordialidade e a chance de relevar algum erro tendem a diminuir, e essa realidade do estresse dentro do trânsito contribuiu amplamente para um ambiente hostil e com riscos de conflitos e acidentes”, completa Pedro Dinelli.
Acidentes com scooters, patinetes e bicicletas elétricas
Quando se fala em segurança no trânsito, não são apenas carros e motos que merecem atenção. Na cidade do Rio de Janeiro de Janeiro, por exemplo, os hospitais da rede municipal registraram, de 2023 para 2024, aumento de 702% no número de atendimentos a pessoas envolvidas em acidentes com veículos de micromobilidade (patinetes elétricos, autopropelidos, ciclomotores e demais veículos urbanos leves). O levantamento foi realizado pela Comissão de Segurança no Ciclismo do RJ, totalizando ocorrências que saltaram de 274 em 2023 para 2.199 em 2024, sem levar em conta acidentes envolvendo ciclistas.
Segundo Jefferson De Decco, ortopedista e professor do IDOMED (Instituto de Educação Médica), nos últimos anos, o uso de scooters, patinetes e bicicletas elétricas cresceu bastante. Práticas, econômicas, acessíveis, ajudam a fugir do trânsito, sendo também uma opção mais sustentável de transporte. Mas, como todo veículo, também oferecem riscos se não forem utilizados com atenção e segurança.
“Muitas vezes, os acidentes estão ligados à falta de equipamentos de proteção, excesso de velocidade, distração ou até mesmo desrespeito às regras de trânsito. Mesmo em trajetos curtos, uma queda pode causar lesões sérias ao usuário destes meios de transporte. Dentre os itens de segurança, o capacete é o mais importante, pois protege a cabeça contra traumatismos, que podem ser graves mesmo em quedas leves. No Rio de Janeiro, o uso do capacete é obrigatório por lei para bicicletas e recomendado fortemente para scooters e patinetes. Outros itens de segurança como cotoveleiras e joelheiras ajudam a evitar fraturas e escoriações em quedas, que são muito comuns. Quem já caiu sabe, na hora do susto, é instintivo apoiar-se com os braços ou joelhos”, comenta.
O ortopedista dá dicas práticas para a utilização destes veículos, como usar capacete e, se possível, joelheiras e cotoveleiras; verificar os freios e pneus antes de sair; respeitar os limites de velocidade e as regras de trânsito; manter atenção redobrada em cruzamentos e locais com pedestres, e evitar o uso de fones de ouvido e celular durante o trajeto.
Ele também aconselha o que devemos fazer em caso de acidente: tentar manter-se calmo e verificar se está em um local seguro, afastado do tráfego; avaliar os ferimentos e, se houver dor intensa, sangramento ou suspeita de fratura, não se mova e aguarde ajuda; acionar o SAMU (192) ou bombeiros imediatamente em casos graves e registrar o acidente (se possível) e avisar os familiares. Se a vítima bater a cabeça, mesmo com capacete, ela deve procurar um hospital, pois alguns sintomas podem aparecer horas depois. Já em casos de pequenos ferimentos, ele recomenda higienizar com água limpa, além de fazer um curativo simples e, depois, procurar um atendimento médico para avaliação.
“Após um acidente, mesmo quando os ferimentos parecem ser leves, é comum surgirem dores, rigidez ou limitações nos movimentos. A fisioterapia nesses casos é fundamental para: reduzir dor e inflamações, recuperar força e mobilidade, prevenir sequelas e novas lesões e acelerar o retorno às atividades do dia a dia e ao esporte”, afirma Jefferson.



















